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Tourette & Eu

Este é um bloco exclusivo para discorrer acerca de um aspecto específico da minha vida e da vida de outros singulares portadores da

Síndrome de Tourette.

Se você se encaixa nessa categoria de ser humano ou tem dúvidas a respeito, aproveitemos, portanto, as oportunidades desse e de seguintes posts relacionados para não só compreendermos os vários aspectos dessa condição, marcada pelo constrangimento e pelo escárnio decorrentes, mas também para que através do diálogo e do bom senso possamos acrescentar a esse mundo cão um pouco mais de tolerância.

P.S.

Isso não é um tratado científico, se quiserem saber os pormenores clínicos da desordem em questão, procurem por sites de neurologia, psicologia comportamental, psiquiatria, etc.

Procurem profissionais, em caso de necessidade de tratamento. Cada indivíduo desenvolve sua Tourette a partir de ocasiões ou pré disposições específicas de suas vidas, portanto os tratamentos variam.

***

Um dia desses assisti a um vídeo promocional da HBO para uma associação norte americana em prol dos portadores da Síndrome de Tourette e fiquei meio puto. O vídeo mostra algumas crianças com a síndrome falando abertamente – convulsivamente – a respeito de suas vidas “Tourétticas”. As crianças são bonitinhas, o que me deixou puto foi ter descoberto que isso – a síndrome – existia quando eu já tinha uns 22 anos. Antes disso eu fui praticamente obrigado a aprender a controlar ou disfarçar minhas convulsões, enchendo-me de repressões, porém agraciando-me com o exercício diário do auto conhecimento. Até a Tourette tem um lado positivo. Eu só fui humilhado na infância por ter um sotaque diferente e por não levar meus coleguinhas a sério.

Enfim, vi o vídeo, fiquei puto e escrevi o seguinte.

 

SÍNDROME DE NOME ESQUISITO

.

Ai de mim ter sabido muito cedo

Que havia um nome especial,

Que era um doutor europeu,

Que eu não devia ter sentido medo.

.

Pobre da criança digna de piedade,

Teria em mim cessado a vontade,

Ou seria classificado “retardado”

Desde a mais tenra idade?

.

Se não há cura, porque há doença?

Ser doente não é fácil,

Muito menos quando se é doente, saudável.

Quando “aceitar-se a si” torna-se vendável

“superar-se a si” parece inalcançável.

.

Gratificado, sou, por uma mãe sabida

Que batia e dava chilique

Toda vez que via o tique,

Conhecendo quanta crueldade há

Na vida em sociedade.

.

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